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sexta-feira, 29 de julho de 2011

Tenta-ação!






E nos sentíamos.
Por trás do que acontecia, eu redescobria magias sem susto
algum. E de repente me sentia protegido, você sabe como: a vida toda,
esses pedacinhos desconexos, se armavam de outro jeito, fazendo
sentido. Nada de mau me aconteceria, tinha certeza, enquanto
estivesse dentro do campo magnético daquela outra pessoa. Os olhos
da outra pessoa me olhavam e me reconheciam como outra pessoa, e
suavemente faziam perguntas, investigavam terrenos: ah você não
come açúcar, ah você é do signo de Leão. Traçando esboços, os dois.
Tateando traços difusos, vagas promessas.
Nunca mais sair do centro daquele espaço para as duras ruas
anônimas. Nunca mais sair daquele colo quente que é ter uma face para
outra pessoa que também tem uma face para você, no meio da tralha
desimportante e sem rosto de cada dia atravancando o coração. Mas no
quarto, quinto dia, um trecho obsessivo do conto de Clarice Lispector
—Tentação—na cabeça estonteada de encanto: “Mas ambos estavam
comprometidos. Ele, com sua natureza aprisionada. Ela, com sua
infância impossível”. Cito de memória, não sei se correto. Fala no
encontro de uma menina ruiva, sentada num degrau às três da tarde,
com um cão basset também ruivo, que passa acorrentado. Ele pára. Os
dois se olham. Cintilam, prometidos. A dona o puxa. Ele se vai. E nada
acontece.


Caio F.












saudade.

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